Projeto Sala de Aula – Um olhar adolescente (2022/2023)
O projecto que se apresenta resulta do workshop desenvolvido pelo atelier Parto com os alunos do 5.º 5.ª (2022/2023), no âmbito do programa Construir em conjunto na Escola, com a coordenação geral da Garagem Sul – Centro Cultural de Belém.
O programa tinha como objecto de reflexão a escola enquanto espaço de aprendizagem, e como objectivo a identificação de uma forma de melhorar o espaço e a sua materialização.
A colaboração entre os alunos e a equipa de arquitectura em residência permitiu, ao longo das oito sessões realizadas, conceber um projecto colectivo, que respondesse aos problemas identificados e promovesse a participação activa da comunidade escolar.
Foi nesse contexto que a intervenção confluiu na construção de uma sala para alunos, um espaço de assembleia, de reunião, diálogo e discussão de novas ideias acerca da escola e do espaço físico que a conforma.
Sendo fundamental que esta sala fosse acessível e ficasse ao dispor de todos, a escolha do lugar da sua implantação foi determinante, não só pela proximidade à entrada principal no edifício (junto ao PBX), como pelo facto de ser um espaço exterior amplo, capaz de albergar um número elevado de pessoas.
A centralidade e circularidade da peça, com 6,35m de diâmetro, atendeu ao princípio de que todos deveriam poder ver-se e escutar-se, sem hierarquia, e a sua configuração em anfiteatro de bancadas corridas visou multiplicar a superfície de assento, por forma a garantir o maior número de lugares sentados.
Tratando-se de um espaço de uso dos alunos era, ainda assim, necessária a ausência de barreiras visuais que comprometessem a sua segurança e vigilância – daí que o volume não ultrapasse a altura de duas bancadas (76cm).
Para além disso, o próprio sistema construtivo deveria garantir a celeridade do processo de assemblagem e, simultaneamente, a estabilidade e durabilidade da peça, fazendo com que fosse resistente tanto às condições naturais externas, como a potenciais acidentes ou actos de vandalismo.
Assim, o projecto foi desenhado com base na composição de blocos de absorção acústica em betão leve de argila expandida (especialmente concebidos para a utilização em edifícios escolares e pavilhões desportivos e polivalentes), emparelhados entre si por meio de parafusos e porcas ocultos, formando módulos de 60cm de largura, 20cm de altura e 40cm de profundidade, com cerca de 30kg cada um.
Dispostos em círculos e empilhados de forma cruzada, os blocos vão-se justapondo e formando as bancadas, usando o seu peso próprio e inércia para assegurar a solidez do objecto.
Por fim, a pintura numa cor em harmonia com as paredes lilás procura animar a peça e retirar a aparência mais rude do betão, e o revestimento do pavimento interior com casca de pinheiro acaba por demarcar o espaço e atribuir-lhe gravidade.
De facto, pretende-se que o projecto perdure no tempo e acompanhe as várias gerações de alunos ao longo dos anos. De qualquer modo – ainda que não seja uma intervenção de carácter temporário –, foi necessário excluir qualquer recurso a fundações, por forma a possibilitar-se a sua simples desmontagem, sem compromisso do espaço e dos materiais pré-existentes.
Sessão de Abertura
Talvez não devesse começar por referir a minha satisfação pessoal nem confundir Escola com Casa pelo que sinto que esta nota de abertura está protocolarmente comprometida. Ouso continuar, advertindo os mais impressionáveis, para o risco do uso do protocolo do coração. É sempre assim quando estou feliz.
Dizia eu que a minha satisfação é enorme por vos receber cá em Casa. E maior ainda por estar certa de que não moro sozinha. Aqui no Gil Vicente partilhamos os espaços, mas também os sonhos, as dúvidas e tudo o que nos faz evoluir, na construção de quem somos. A Sala Redonda que hoje celebramos é fruto de um caminho, desde o convite à reflexão sobre as melhorias que esta Escola pedia até à execução desse mesmo projeto. A assimilação e apropriação do espaço. A elevação da Escola a Casa, no sentido em que passa a ser parte de nós. Porque a fizemos. Porque ela nos faz.
Agradeço então o trabalho de todos os intervenientes neste projeto, traduzido na Sala Redonda e nos seus blocos de “betão leve de argila expandida” de 30 kgs cada, bastante concretos, portanto. E agradeço também o trabalho interior e inteiro que não se vê, operado em cada um dos nossos alunos e alunas, trabalho que estará logo acima dos blocos, unindo-os ao infinito.
Que este “olhar adolescente” perdure, crítico, atento e interventivo.
É por isso que acredito na Escola. É por isso que lhe chamo Casa.
E é sempre assim quando estou feliz.
Obrigada!
Adriana Guerreiro